quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Lutar contra homofobia não é coisa de viado


Lutar contra homofobia não é coisa de viado

Tales Gubes - Ano Zero

Quando contei à minha mãe que estava namorando um homem, ela ficou preocupada com a minha segurança. Não é de se espantar. Nos jornais, as notícias sobre gays são sempre notícias de intolerância e violência sugerindo a mesma coisa: não tenho lugar neste mundo. Medo é uma sensação constante, mesmo que eu não faça nada de errado.
Há muita gente que considera errada a minha forma de ser e de amar.
No Rio Grande do Sul, um CTG foi incendiado num provável ato de protesto contra um casamento que seria celebrado entre duas mulheres. O que há de tão poderoso – e perigoso – em uma declaração pública de relacionamento entre duas pessoas que precisaria ser impedido a todo custo? Acertou quem disse “nada”, porque realmente não há perigo algum, ao menos não racionalmente. O que está em jogo é a manutenção do mundo como o conhecemos, um mundo que serve só para algumas pessoas e não para todas.
Para evitar a mudança, há quem esteja disposto a ações intensas. Em Goiás, um jovem de dezoito anos foi assassinado. Ele era homossexual assumido em uma cidade do interior do Centro-Oeste brasileiro. Seu nome era João Donati, e sua existência, tão perigosa a ponto de alguém julgar necessário exterminá-la.
As notícias sugerem que o homem responsável pelo assassinato foi preso. Ele teria transado com João, se desentendido com ele e então o matado. Já ouço os paladinos da moral dizendo que então não foi homofobia, foi só um cara desequilibrado que matou uma pessoa sem sorte, que por acaso era homossexual. Aqui, uma ressalva: não tenho dúvida de que o assassino é um desequilibrado, mas seria ingenuidade reduzir esse caso a apenas um indivíduo que cometeu um crime.
O suposto assassino disse que não é gay, embora transe com homens ocasionalmente. Em que mundo seria necessário dizer isso? Por que destacar “não sou gay”? Respondo: porque, em nossa cultura, ser gay é uma coisa ruim, indesejável e inaceitável. Ser gay é um problema e um risco. Ser viado é um problema. Imagina se alguém descobre, se alguém ri da minha masculinidade?
Lá quando contei para minha mãe, eu tinha medo de ser mal visto e de não ser mais amado. Não era um medo meu, mas um medo que aprendi a ter com os colegas que riam de mim, com as religiões que pregam somente um jeito certo de amar, com a ausência de representação positiva de personagens gays na mídia, com as notícias de homossexuais assassinados. Esse é um mundo perigoso para “se assumir” – entre aspas porque ninguém deveria assumir algo que é tão simples quanto amar e sentir tesão por alguém do mesmo sexo. O assassinato de João é mais uma lembrança de um mundo que não me quer por perto, que prefere que eu não exista.
Se ficarmos em silêncio, estaremos banalizando a morte e a discriminação. Por isso, temos a obrigação de lutar contra isso. Não apenas nós homossexuais, mas todos nós que queremos um mundo com menos ódio, violência e sofrimento. Vale qualquer coisa, menos o silêncio. Ficar em silêncio equivale a morrer ou a deixar matar.
Pode ser uma manifestação pública:
Pode ser uma campanha publicitária internacional:
Pode ser uma música:
Ou pode ser algo mais simples: ir a alguém que amamos e dizer “eu sou feliz por ter você na minha vida”. Um pequeno gesto, mas que pode dar força para enfrentar um mundo cruel. Uma coisinha de nada, mas que pode mostrar a quem vive pelo ódio que não ficaremos em silêncio.
Tem muita gente dizendo que não tenho lugar no mundo. Estão errados. São eles, os que odeiam, discriminam e agridem, é que precisam mudar. Como a banda Mago de Oz canta em El que quiera entender que entienda, “se há que lutar, lutar é educar”.
Digamos: #HomofobiaNão.
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