Se para cada Pedro tivéssemos uma Dora, teríamos dias melhores.
Não é minha presidenta?
Carta para Dilma Roussef
(4'09''' / 977 Kb) - Minha presidenta, ouvi com atenção seu discurso na abertura do do debate geral da 66ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, no último 21 de setembro. Assim como tantos outros brasileiros e brasileiras, senti orgulho pelo seu tom seguro, digno e altivo com o qual expôs sua mensagem.
A senhora, em seu honroso posto de presidenta do Brasil, levou uma fala transparente e corajosa aos representantes de tantos países do mundo ali reunidos. Ser o Brasil posto na pessoa de uma mulher é algo muito significativo e bom. E a senhora bem destacou sua condição de mulher e das mulheres do mundo e das brasileiras. A senhora disse ter orgulho pelo Brasil ser um vetor de paz, estabilidade e prosperidade. Mas, sabemos nós duas, e outros milhões de cidadãos brasileiros, que a coisa não é assim tão fácil. Como creio não ser fácil para a senhora ver tantos brasileiros ainda na linha cinzenta da fome, crianças subnutridas, ensino escolar claudicante e a saúde do brasileiro tão enferma.
A senhora tem família, tem filha e neto, e bem lembrou a dor das famílias que enfrentam as grandes crises deste mundo que se quer moderno e próspero. A corrupção nos maltrata, não é minha presidenta! E não deve ser fácil dormir, a presidenta do Brasil, com a revolta e vergonha que nos dão as notícias de todos os dias, nos jornais. Mas, de qualquer jeito, penso que a senhora segue o bordão atribuído a Santo Agostinho, segundo o qual dizia ele ter a esperança duas filhas lindas: a raiva do estado de coisas e a coragem para mudá-lo.
Acho que a senhora é esperançosa, minha presidenta. E foi sobre isso, sobre a esperança, que falei com Pedro, que estava ao meu lado, ouvindo-a também. Apresento-lhe o Pedro, minha presidenta: ele tem 17 anos e dez meses de vida e vive numa instituição desde os três anos de idade. Nem me pergunte, senhora presidenta, o porquê disso. O que lhe digo é que o Pedro está em crise também.
Nos últimos meses, ele que sempre foi bonzinho para os seus educadores, começou a ter rompantes de desobediência, deixou a escola, abandonou o trabalho que lhe arranjaram e até brigou com a terapeuta, que, segundo ele, nada diz de novo. E, fuça daqui fuça dali, descobriu-se o mal que atinge Pedro - pavor e desesperança, senhora presidenta! E, vamos combinar, pavor e desesperança são dois substantivos que não combinam com quem vai fazer 18 anos!!! E o Pedro está com medo de fazer 18 anos: e virar cidadão, eleitor, trabalhador e ter que se sustentar e viver só. E o Pedro está triste, temeroso e cheio de dúvidas sobre o Brasil que o espera. Não sabe por onde ir e teme perder o único lugar seguro para voltar.
Sabemos nós duas, presidenta, que o desafio do Pedro não é mesmo fácil. A ele foi negada a família e sua esperada segurança e afetividade. A ele o Estado cuidou de forma indiferente e, até podemos apostar, negligente. O Pedro é bonito, inteligente e tem olhos calmos e tristes. E não entende porque ninguém o quis. Mas, eu disse ao Pedro que confie, que tenha esperança e que não desista. Afinal, tempos melhores virão. Tomara, não é minha presidenta?
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