Brasil se torna o País das doutoras
Total de estudantes do sexo feminino tituladas nos últimos sete anos foi 5% superior ao de homens. Nos mestrados, a diferença chega a 17%. Mas ainda há discriminação contra elas.
O Brasil está tornando-se um País de doutoras. De 2004 a 2010, as mulheres obtiveram mais títulos de mestre e de doutor que os homens. É o que revelam dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Ciência e Tecnologia, obtidos com exclusividade pelo Correio. No total, foram tituladas 35.626 estudantes femininas nos últimos sete anos, 5% mais que os homens (33.765). No mestrado, a diferença é maior: foram beneficiadas 117.382 mulheres, frente a 100.202 estudantes do sexo masculino - 17% mais. A supremacia feminina também se dá relação ao número dos matriculados e aos que ainda não tiveram a dissertação aprovada.
Elas estão conscientes de que quanto mais estudo, maior será o salário no bolso. A remuneração de um doutor pode ser até 37% superior à paga a quem só tem o curso superior, dependendo da área de atuação. Mas o estudo a mais não conta apenas para quem quer seguir a carreira de professor. Para cargos de chefia, a especialização faz enorme diferença. No governo, já se paga salários diferenciados conforme a titulação do servidor. Os pesquisadores do Instituto de Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (Inmetro) com doutorado ganham de 16% a 21% mais que os colegas com mestrado e de 27% a 32% mais do aqueles com apenas o curso superior. O mesmo ocorre no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi): a diferença salarial entre quem tem mestrado e doutorado e os demais chega a 30%.
"É uma tendência mundial as mulheres ultrapassarem os homens no ensino superior", constata o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann. O Brasil está entre os países que mais titulam mulheres em doutorado. Em termos proporcionais, está em terceiro lugar no mundo, atrás apenas de Portugal e Itália, conforme o Centro de Gestão e Estudos estratégicos (CGEE). Pochmann destaca que, com a globalização, a demanda maior é por mão de obra intelectual, e as mulheres estão mantendo a dianteira.
Michelle Flaviane Soares Pinto, 27 anos, é uma dessas tituladas. Depois de concluir o mestrado em biotecnologia, resolveu aprofundar-se no tema e partiu para o doutorado na Universidade Católica de Brasília. "Descobri a área de pesquisa ainda na faculdade e me apaixonei", conta. Ela divide a sala com 11 mulheres e sete homens. "É um curso tradicionalmente masculino, mas estamos conquistando cada vez mais espaço. É gratificante saber que podemos contribuir com a ciência e ajudar em alguma coisa", emociona-se.
Colegas de curso de Michelle, a bióloga Jéssica Carvalho Bergmann, 28 anos, e a farmacêutica Daiva Domenech Tupinambá, 38 anos, destacam o esforço para se aperfeiçoarem, mas avaliam que isso não é totalmente reconhecido no mercado de trabalho, sobretudo quando o assunto é salário. "Ainda hoje sofremos preconceito", lamenta Daiva.
Doutora em artes, dança e teatro, Cristina Fernandes Rosa, 37 anos, avalia que quem opta pela especialização máxima deve ter em mente a carreira acadêmica ou de pesquisa. "Quando decidi fazer o doutorado em artes, dança e teatro, sabia que ficaria na área acadêmica. Para o mercado de trabalho tradicional, não vale a pena. Nesse caso, as melhores opções são a pós-graduação e o MBA (Master of Business Administration)", afirma.
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