Por que nós mulheres somos mais vulneráveis à AIDS?
Lembro-me de uma pesquisa sobre uso de camisinha, realizada pelo Ministério da Saúde recentemente (2009 ou 2010). As mulheres responderam muito menos vezes que usavam camisinha sempre. Conclui-se daí que nós usamos menos frequentemente camisinha pra transar. Ao contrário do que muitso discursos por aí fazem pensar, que o ato de "usar camisinha" é uma coisa simples, há várias nuances implicadas ali.
A primeira delas é o valor social do corpo. O corpo do homem em nossa sociedade machista e androcêntrica é tomado como um valor maior. Homens são ensinados desde muito cedo que devem fazer sexo com muitas mulheres e portanto protegerem-se. Via de regra, muitas mulheres são ensinadas o oposto: só devem fazer sexo com um, ou com a menor quantidade possível de homens, e que a proteção é uma escolha dele.
Infelizmente muitos homens ainda forçam a barra pra transar sem camisinha e, convenhamos, não é necessariamente fácil para uma menina ou uma jovem mulher (grupo que atualmente tem figurado entre os mais vulneráveis à contaminação pelo HIV) dizer "não", no meio da pegação, cheia de tesão. Impor uma decisão dela mas que também influencia no corpo do outro. Nós somos acostumadas a termos nosso corpo regulado pelos outros e não o oposto. Este é um ponto.
Infelizmente muitos homens ainda forçam a barra pra transar sem camisinha e, convenhamos, não é necessariamente fácil para uma menina ou uma jovem mulher (grupo que atualmente tem figurado entre os mais vulneráveis à contaminação pelo HIV) dizer "não", no meio da pegação, cheia de tesão. Impor uma decisão dela mas que também influencia no corpo do outro. Nós somos acostumadas a termos nosso corpo regulado pelos outros e não o oposto. Este é um ponto.
Outro ponto importante se conecta com resultados de outra pesquisa que saíram esses dias mas que ninguém parece querer cruzar com os dados sobre a AIDS: as mulheres jovens são pelo menos 75% das vítimas de violência sexual no Brasil. Quando fala-se em AIDS, parece que ela só é transmitida em sexo consensual. Uma campanha pelo uso de camisinha dificilmente vai fazer qualquer diferença na transmissão da AIDS pelo estupro. Depositar todas as fichas na "conscientização", como fazem as atuais campanhas e a maioria das ONGs aqui no Brasil, é um grande erro estratégico.
Ignora-se que nós mulheres além de vulneráveis à violência doméstica física, somos mais vulneráveis à violência sexual e à contaminação pelo HIV. Fazer de conta que todas as mulheres são empoderadas, senhoras de si, etc. é esconder a ligação entre estes três fatos. A transmissão maior de HIV para jovens mulheres não pode ser sanada pensando no HIV. Precisa ser questionada pensando no machismo que molda a posição que "ser mulher" significa hoje em nosso contexto social.
A camisinha precisa ser vista como uma das estratégias. Mas é só a pontinha desse horroroso iceberg.
0 comentários:
Postar um comentário