sábado, 4 de fevereiro de 2012

LEI Sem vigilância, Maria da Penha se torna inútil


LEI Sem vigilância, Maria da Penha se torna inútil

Joelmir Tavares no OTempo


Restrição. Djalma Veloso estava proibido de se aproximar da mulher e de falar com ela e os dois filhos
Apesar de, em boa parte dos casos, a Polícia Civil dar prioridade às denúncias de ameaça e violência feitas por mulheres e a Justiça garantir agilidade ao analisar os casos, a Lei Maria da Penha falha na hora do cumprimento das restrições ao agressor, as chamadas medidas protetivas. Se houvesse vigilância sobre o acusado, crimes como o assassinato da procuradora Ana Alice Melo pelo empresário Djalma Veloso poderiam ser evitados. Hoje, porém, nada garante a obediência às decisões judiciais - que incluem, por exemplo, distância mínima da vítima e afastamento de casa.

"Esse é um ponto fraco da lei. A medida, em muitos casos, acaba sendo inócua porque não impede que as agressões se repitam", diz o advogado José Arteiro, que defendeu os interesses da família da cabeleireira Maria Islaine Morais, 31, morta pelo ex-marido com nove tiros em 2010, em Belo Horizonte.

A Secretaria de Políticas para as Mulheres, ligada à Presidência da República, reconhece a ineficácia na aplicação das medidas preventivas e alega dificuldade para conseguir manter o agressor longe da vítima. "A princípio, não consigo prever uma alternativa que resolva o problema de uma vez por todas", afirmou a ouvidora da secretaria, Ana Paula Schwelm.

Solução. Para o presidente da comissão de assuntos penitenciários da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG), Adilson Rocha, "a solução mais viável é o monitoramento eletrônico dos agressores" com tornozeleira, pulseira ou colar. A mulher seria alertada sobre a aproximação do homem e teria tempo de se proteger.

Em Minas, a adoção do sistema já é cogitada. Desde o ano passado, a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) analisa as tecnologias disponíveis no mercado. Mas o órgão informou ontem que não há previsão para o início do uso. A prioridade será a colocação das tornozeleiras em presos do regime semiaberto.

Ex-vítima de agressão, a mulher que inspirou o nome da lei, Maria da Penha Fernandes, 66, é favorável ao monitoramento. "Todo esforço para se preservar uma vida deve ser feito", disse a biofarmacêutica, que mora em Fortaleza (CE). Na visão dela, apesar do ponto falho, a lei trouxe avanços na discussão e punição dos crimes domésticos.

O juiz Juarez Azevedo, que expediu as duas medidas favoráveis a Ana Alice, contesta as críticas à eficácia das medidas protetivas. "Na maioria das vezes, elas intimidam o acusado".

A primeira decisão de Azevedo, em 25 de janeiro, obrigava Djalma Veloso a ficar a uma distância mínima de 30 m de Ana Alice, não falar com ela e os dois filhos do casal e deixar de frequentar lugares em comum. Veloso, porém, continuava indo à casa da família e ameaçando a mulher. No segundo despacho, expedido cerca de 11 horas antes do assassinato, o juiz ordenou o afastamento imediato de Veloso do lar.

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