terça-feira, 16 de outubro de 2012

Eleições em São Paulo: Homofobia, e a campanha na Idade Média

Eleições em São Paulo: Homofobia, e a campanha na Idade Média

Por Bob Fernandes



Neste ano, 165 homossexuais e transexuais foram assassinados no Brasil. No ano passado, os mortos em decorrência de escolha sexual foram 266. Nos últimos 20 anos o Brasil assistiu 3 mil e 50 seres humanos serem assassinados por terem feito escolhas sexuais próprias. O Brasil é o país no mundo com o maior taxa de assassinatos de homossexuais e transexuais.

Por esse motivo, o ministério da educação pensou em levar esse debate para as escolas. Isso em 2010, com Fernando Haddad ministro da educação. Era ano de eleição presidencial, e vídeos propostos por uma ONG eram de mau gosto. Evangélicos do tipo Malafaia aproveitaram a oportunidade, o barulho, e o MEC desistiu da ideia.

Agora, de novo ano eleitoral, o tema está de volta. Com o apelido de "Kit Gay". Apelido grotesco na intenção e nos objetivos. O pastor Malafaia foi o escalado para, como ele mesmo definiu, "arrebentar" Fernando Haddad. Porém, como em toda questão embalada pela hipocrisia, pela moral de ocasião, armários acabam sendo abertos.

Neste início de semana e de campanha eleitoral no rádio e Tv, com o "Kit Gay" sendo brandido como ameaça contra Haddad, surge um fato. Fato que deixa claro o tamanho da inconsequência num debate que deveria ser tratado com seriedade. Em outro momento, e de outra forma.

Hoje a colunista Monica Bergamo, da Folha de S.Paulo publicou uma nota. Nesta notícia, a informação: quando era governador de São Paulo, em 2009, José Serra assinou, e o seu governo distribuiu, um Kit de combate à homofobia. "Boneca na Mochila", um dos vídeos recomendados a professores pelo guia anti-homofobia
tucano, é semelhante a um dos vídeos que o ministério estudava divulgar.

O guia de São Paulo recomenda que professores usem imagens de meninas se beijando e homens se abraçando ao discutir a questão. A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo informou que o material não é de uso obrigatório e serviria apenas para os professores. O MEC, por seu lado, diz o mesmo: o material seria enviado para 6 mil professores. O guia do PSDB recomenda aos professores:


-Explique que, em nossa sociedade, tudo o que foge a certo padrão de masculinidade e feminilidade é, muitas vezes, visto com estranhamento. E desse estranhamento surgem os preconceitos e, consequentemente, a discriminação.


O prefeito Kassab disse, há pouco, não haver "semelhança" entre os dois guias. Pano rápido. Na verdade, há pelo menos uma semelhança, e fundamental na intenção dos dois "kits": ambos buscavam tirar o tema do armário e debatê-lo com a seriedade que merece.

O que se viu, o que se vê, é o oposto: entre ameaças, recuos, negativas e ataques, o que se assiste são mais alguns passos em direção à discriminação. Como está posto, o tema da sexualidade incentiva aos que, nas ruas, no cotidiano, defendem e praticam a barbárie.

É óbvio que ninguém está obrigado a concordar com as escolhas de ninguém. Mas deveria ser óbvio também que na vida cada um escolhe o que quer para si. O que não se pode aceitar é esse fato:
165 seres humanos foram assassinados no Brasil, nesse ano, por decidirem amar a quem querem, e a quem outros não aceitam.


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