terça-feira, 2 de julho de 2013

Inserção à paulista: USP tenta aprovar 'programa de inclusão' sem cotas raciais

Inserção à paulista: USP tenta aprovar 'programa de inclusão' sem cotas raciais

USP tenta aprovar 'programa de inclusão' sem cotas raciais; estudantes realizam protesto

Sarah Fernandes - RBA

 Projeto, que será adotado já no próximo vestibular, eleva bônus do atual programa de inclusão da universidade e reserva apenas 5% das vagas para negros
MARCELO CAMARGO. ARQUIVO ABR
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As cotas são uma antiga demanda de estudantes da USP, mas a reitoria não aceita a sugestão
São Paulo – O Conselho Universitário da USP vai se reunir na tarde de hoje (2) para tentar aprovar um novo projeto de inclusão social por mérito, que não contempla cotas raciais, bandeira histórica do movimento estudantil. Contrários à proposta, estudantes e militantes de movimentos sociais organizam um protesto em frente à reitoria durante a reunião.
Se aprovado, o projeto substituirá a proposta de criação do Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público (Pimesp), do governo estadual, que previa que os alunos negros e egressos de escola pública fossem aprovados em um curso preparatório semipresencial antes de iniciarem a graduação.
O programa, chamado Plano Institucional 2013-2018 da USP, prevê uma revisão da atual política de bônus da universidade. Hoje, os egressos de escola pública recebem 15% de bônus na nota do vestibular. No novo projeto, esse percentual aumentaria para 20%. Os candidatos que se declararem pretos ou pardos, que é a nomenclatura do IBGE, receberiam mais um bônus de 5%. Atualmente não há benefícios para esse grupo.
Pela proposta, seria criado também um cursinho vestibular comunitário específico para a USP, além da ampliação dos locais de aplicação das provas de seleção. Se aprovado, o modelo já passará a valer no próximo vestibular.
A proposta é uma tentativa da administração de João Grandino Rodas de atingir metas apresentadas em dezembro pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), que prevê que 50% dos calouros de cada curso das universidades estaduais do estado – USP, Unesp e Unicamp – sejam egressos de escola pública, sendo pelo menos 35% deles pretos ou pardos. Hoje, 28% dos aprovados na USP estudaram em escolas públicas. A universidade tem até 2018 para alcançar a meta.
A Frente Pró-Cotas da USP reprovou a proposta e está preparando um ato na tarde de hoje para impedir sua aprovação, com apoio de movimentos estudantis e centros acadêmicos. Segundo nota da Frente, as “propostas não garantirão a inclusão de estudantes negros ou oriundos da escola pública” e “nem de longe atendem às demandas da sociedade por inclusão étnico-racial na Universidade, que é uma mais desiguais do país”.
Para o grupo, a proposta seria apenas uma revisão do atual Programa de Inclusão Social da USP (Inclusp), que “já demonstrou ser um fracasso. Ao longo dos sete anos que vem sendo implementado, houve aumento de apenas 3% no número de estudantes oriundos de escola pública e não impactou em nada na entrada de alunos negros”.
"Qualquer reparo na política de bônus não será suficiente para dar conta da disparidade de acesso ao ensino superior entre brancos e negros. Queremos uma política de Estado que garante reserva de vagas enquanto não universalizamos o acesso ao ensino superior", afirma o conselheiro da Uneafro, Douglas Belchior.
O texto ressalta ainda que a escolha de cotas sociais em vez de raciais é problemática, porque “escamoteia o racismo e não contribui para um maior acesso da população negra à universidade”.
A reitoria da USP informou, em nota, que a proposta vem sendo amplamente debatida com as diferentes unidades de ensino, há pelo menos seis meses. “Constatou-se que a maioria das Unidades decidiu pela manutenção e aperfeiçoamento do Programa de Inclusão Social da USP (Inclusp) e apresentou sugestões com essa finalidade.”
A Frente Pró-Cotas apresentou à Assembleia Legislativa, em junho, uma proposta que prevê reserva de 55% de vagas na USP, Unesp e Unicamp para negros, indígenas, deficientes e estudantes de escola pública. Segundo Belchior, o movimento vai iniciar uma campanha para pressionar a aprovação da proposta "aproveitando o caldo das grandes manifestações que aconteceram no país". Nas universidades federais, 50% das vagas já são reservadas para estudantes negros.

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