terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O amor em tempos de ignorância

O amor em tempos de ignorância

Por  | Preliminares

Miss Bumbum Dai Macedo causou polêmica. (Foto: AgNews)A informação está a um clique. Qualquer informação. E não é maneira de dizer. Se você quiser aprender física quântica pela internet, consegue. Se quiser fazer um curso universitário em uma faculdade gringa, consegue. Se quiser fazer um curso livre e grátis sobre qualquer coisa, dá para fazer. Então por que é que as pessoas continuam seguindo na ignorância?
Porque é mais fácil e gostoso. Sabe aquela coisa da inércia? De que quanto mais você fica sem fazer nada, menos quer fazer? Pois é isso, só que intelectualmente. É mais fácil deixar o cérebro atrofiando do que levar o bichinho para a academia. Escolhas, né?
Mas essas escolhas mexem com outras pessoas. E machucam, deprimem, matam. E dessa vez não é que não estou falando sobre gays, lésbicas, trans ou qualquer outra minoria que nos comentários chamam de “ditadura gayzista”. Estou falando, nesse caso específico, de um homem, branco, hétero e rico. Sim, homens assim sofrem preconceito. Principalmente quando namoram um Miss Bumbum – por quem todos os outros caras babam. E são cadeirantes.
O que aconteceu com Rafael Magalhães e Dai Macedo acontece com milhares de pessoas mundo afora. Eles se apaixonaram, ele era cadeirante e ela muito gostosa. Acontece. Eles ficaram juntos e há alguns dias saíram em uma coluna social. Não preciso nem colocar aqui o teor dos comentários da notícia, preciso? Ódio, humilhação, palavras duras e desnecessárias. Ignorância. Acima de tudo, ignorância.


Momentos do casal. (Foto: Reprodução/ Instagram)
Os comentaristas resolveram que Rafael não conseguia ter vida sexual. A ignorância começa ao acreditar que Rafael não consegue ter uma ereção – não sabemos o caso específico dele, mas muitos homens cadeirantes as têm sem problemas – e termina ao acreditar que o sexo se baseia em penetração.
Em agosto de 2012, conversei com o querido jornalista Jairo Marques, autor do blog Assim como Você sobre a vida sexual para cadeirantes. A visão dele é bastante simples e direta: “Cadeira de rodas não tem naaaada a ver com capacidade de conquista, de potencial de dar prazer etc. Tem diferenças? Na essência, não tem nada: tesão é tesão, sedução é sedução, sacanagem todo mundo gosta... Isso precisa estar claro. O que muda, talvez, são instrumentos para chegar lá, saca?".
Pois é, cadeirantes podem ter uma vida sexual plena. Mas e se não pudessem? O que isso muda no amor? Quem é que resolveu que seria proibido uma mulher amar um homem que não fica com o pau duro? Desde quando essa é uma coisa insubstituível em uma relação? Amor vai além do sexo, do corpo, dessa dimensão. Amor é transcendente, é maior.


Rafael Magalhães e Dai Macedo. (Foto: Divulgação)
A ignorância julga. O ignorante não busca saber, ele acha que. E a vida dessas pessoas é cheia de sexo selvagem e cheio de vida, né? Não, não é. Assim como a minha, a sua e a de 80% das pessoas em um relacionamento duradouro. O sexo é importante, mas não é a única coisa ou a mais importante.
Em tempos de ignorância, amar se tornou um tabu. Você não pode mais apenas amar alguém? Esse alguém tem que passar por uma prova e atingir todos os atributos? Não, o amor não se importa, não quer saber, não se interessa pela perfeição. O amor vai além e a ignorância não entende isso. É uma pena, pois se entendesse, muito mais pessoas seriam felizes.

Preliminares

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