segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Para escritor, errata de Marina foi "falha moral": "Não quero um presidente refém de bancadas religiosas.

Para escritor, errata de Marina foi "falha moral": "Não quero um presidente refém de bancadas religiosas. Tenho pavor disso"

Para escritor, errata de Marina foi "falha moral"

ROLDÃO ARRUDA

Milton Hatoum explica a retirada de apoio a Marina Silva, do PSB. “Como é que vai ficar a pesquisa científica diante desse compromisso com Deus, com o divino?”, pergunta na entrevista abaixo

No sábado, ao tomar conhecimento da decisão da candidata Marina Silva (PSB) de mudar o capítulo de seu programa sobre a questão da defesas dos direitos homossexuais, o escritor Milton Hatoum anunciou a retirada do apoio que havia dado à candidatura dela. No dia seguinte, quando eu soube que ele havia distribuído uma nota com essa informação, liguei para a casa dele, em São Paulo.
Hatoum atendeu. Confirmou a nota e explicou de maneira detalhada os motivos de sua decisão. Um trecho da conversa saiu publicado na edição desta segunda-feira, 1, do Estadão. A íntegra do que ele disse segue abaixo.
É interessante notar a observação que faz sobre os problemas que o País pode ter se for conduzido sob a égide de um ponto de vista religioso: “Como é que vai ficar a pesquisa científica diante desse compromisso com Deus, com o divino?”
Hatoum é um dos ficcionistas brasileiros mais importantes e premiados da atualidade , com livros traduzidos para vários idiomas. Escreveu, entre outras obras, Cinzas do Norte e Dois Irmãos.

milton31

Você ia mesmo votar na Marina? E por qual motivo retirou o apoio?
Eu estava mesmo propenso a votar na candidata, mas diante dos últimos acontecimentos, da exclusão de alguns pontos do programa dela, eu simplesmente retirei o apoio. Não acredito na explicação de que houve uma falha processual na editoração do texto (foi alguma coisa assim que eles disseram, não?). Para mim foi uma falha moral. Uma falha de princípios. Falha nos princípios éticos, nos compromissos republicanos com um Estado laico. Eu não quero que o presidente da República seja refém de bancadas religiosas. Eu tenho pavor disso. Eu acho que a discussão econômica, macroeconômica, sobre os diferentes pontos de vista na condução da política econômica do País, sobre o tamanho do Estado, a reforma política, tudo isso cabe e deve ser enfatizado nas discussões. Mas quando se trata de uma interferência da religião no Estado, eu acho gravíssimo.
De que maneira você tomou a decisão?
Depois de ler no jornal o texto original e, mais tarde, o que foi feito com ele em nome da tal falha processual. Meu voto vale pouco, vale só um voto, mas cada voto também é precioso. Você dá seu voto acreditando no programa do candidato, nos princípios éticos, na visão de país.  Esse recuo é grave. Mais grave ainda quando se sabe que esse pastor, acho que é Malafaia, apoiou esse recuo. Foi só por isso que decidi: não vou votar nela.
E agora?
Vou rever minha posição, repensar. Como milhões de brasileiros insatisfeitos com tantas decepções, não foi nada bom ver uma candidata mudar o programa, que era bem interessante, tinha consistência sobre essas questões, porque foi foi pressionada. O que eu pergunto é: como é que vai ficar a pesquisa científica diante desse compromisso com Deus, com o divino? A questão da célula tronco. Estou fora. E fiz questão de divulgar isso porque o site UOL havia publicado uma reportagem apontando em quem os famosos votam. Embora eu não seja famoso, sou apenas um escritor solitário, entrei na lista, entre os que iriam votar na Marina.

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