Paulo Nogueira
Ao lado de quem a Igreja Católica fica, dos ricos ou dos pobres?
Dos ricos, todos sabemos. Desde sempre.
Na Inglaterra medieval, um líder popular conhecido como Longbeard por sua barba enorme angariou mais de 50 000 seguidores em Londres. Ele advogava em defesa dos pobres e desvalidos.
Claro que ele terminou morto. Quem comandou o complô para matá-lo foi a principal autoridade católica da Inglaterra de então – o arcebispo da Cantuária. Longbeard se refugiou numa igreja, na esperança de que ela fosse respeitada. Por ordens do arcebispo, puseram fogo nela. Longbeard foi capturado e esquartejado, ao lado de um grupo de seguidores que não o abandonaram em momento nenhum. Um historiador inglês do passado escreveu as seguintes palavras: “Ele morreu unicamente por defender os pobres e a verdade. Se a causa é determinante para fazer um mártir, ele merece ser considerado um mártir.”
Na Inglaterra contemporânea, os responsáveis pela Catedral de São Paulo pareceram ter ficado com asco quando viram gente pobre montar barracas na frente do templo favorito da realeza, no movimento Ocupe Londres.
Ao longo da história apenas no papado de João 23 a Igreja Católica optou pelos pobres. Num grande romance de Graham Greene, O Cônsul Honorário, ambientado num país da América Latina na época das ditaduras militares, um padre adere à guerrilha. Ele explica a um amigo: “É que eu não conseguiria esperar um novo João 23.”
Vejo agora nos Estados Unidos que freiras progressistas, lideradas pela irmã Simone Campbell, foram objeto de recriminação pública do Vaticano. Elas estariam desafiando tabus como o aborto, segundo o Vaticano.
“Nossa missão é viver o evangelho ao lado daqueles que estão às margens da sociedade”, respondeu Simone quando soube da atitude do Vaticano. “Isso é tudo que fazemos.”
Vale a pena conhecer o site da organização que congrega as freiras progressistas americanas. Elas avisam, por exemplo, que fazem parte dos 99% — a imensa maioria da sociedade que nos últimos 30 anos foi legalmente roubada por legislações que permitiram à microelite do 1% pagar cada vez menos impostos.
Clap, clap, clap para as freiras americanas, e em especial para a irmã Simone.
De pé.
Diário do Centro do Mundo
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