quinta-feira, 6 de junho de 2013

O País das Putas Tristes

O País das Putas Tristes

Leandro Fortes no Facebook


Bastaram três dias de pressão da bancada evangélica para, finalmente, Alexandre Padilha demitir Dirceu Greco, diretor do Departamento de AIDS do Ministério da Saúde. 

Três dias. 

Greco caiu porque aprovou a veiculação de uma peça de combate ao preconceito com o slogan "Eu sou feliz sendo prostituta", para o Dia das Prostitutas, 2 de junho. Mas em um país supostamente laico e onde a prostituição não é crime, o exército de crentes e carolas que hoje manda nas grandes decisões nacionais se insurgiu contra a campanha, acionou seus lobistas de plantão e, outra vez, colocou o governo de joelhos.

Chegamos a um ponto em que nem um governo de origem (cada vez mais distante) progressista consegue empunhar essa bandeira essencial das liberdades individuais a partir de ações do Estado. No mar de insensatez em que navegamos, uma prostituta não pode se sentir feliz porque, simplesmente, há um consenso moral medieval estabelecido pela religião e por uma cultura machista predominantemente hipócrita.

Em março, o ministro Padilha já havia suspendido a distribuição do "kit gay", alcunha preconceituosa para revistas de histórias em quadrinhos elaboradas pelo Departamento de AIDS, com foco em adolescentes. O material havia sido elaborado em parceria com o Ministério da Educação, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA).

Caiu por pressão da bancada evangélica.

Agora, calaram as putas, condenadas a serem tristes por decreto.

Feliz mesmo é Feliciano, que logo se apressou a cumprimentar o ministro, no Twitter, por mais essa vitória da moral e dos bons costumes.


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1 comentários:

Anônimo disse...

Talvez o Leandro não saiba, mas para a maioria das putas, seu trabalho é um fardo pesado. A enorme maioria diz que optaria por outra profissão, se pudesse se manter com dignidade. Isso, que deveria ser o cerne da questão aqui, passa batido ... (o que demonstra que o tema do artigo dele é mero pretexto pra repisar a tese de que o governo se submete incondicionalmente ao PIG e não é capaz de rever alguma postura por entender que ela seja equivocada).