Rodolpho Motta Lima
Sem desmerecer a
importância do julgamento pelo Supremo dos políticos envolvidos no “mensalão” –
prática inaceitável que,se confirmada, terá mesmo que ser punida - quero, no
entanto, chamar a atenção para o açodamento com que setores da mídia – que já
têm como certa a condenação dos réus – insistem em vincular a futura decisão do
STF aos resultados eleitorais de outubro próximo.
Seria
perfeitamente compreensível essa hipotética ligação direta entre os fatos se
não estivessem aí disponíveis – na farta mesa de corrupção que envolve o nosso
(?) meio político – elementos das mais variadas espécies para nutrir, também do
lado dos opositores do PT, vasta gama de falcatruas, tráficos de influência e
outros procedimentos que envolvem manipulação fraudulenta de recursos.
Acho
que foi João Saldanha quem disse que “se macumba ganhasse jogo de futebol, o
campeonato baiano terminaria empatado”. Lamentando sinceramente a paródia que
vou construir, a verdade é que,em nosso país, se a corrupção derrotasse
candidaturas ou partidos, seria difícil termos poderes políticos estabelecidos
no Brasil.
Se um
cidadão paulistano, por exemplo, não aceita votar em Haddad por não confiar no
seu tino administrativo ou por uma eventual escolha pouco feliz do PT, isso é
discutível,mas aceitável. Mas se o faz com base na existência do “mensalão”
petista, como poderá justificar seu voto no candidato Serra, por exemplo, sem
exigir , no mínimo, esclarecimentos sobre o que se denuncia no livro
“Privataria Tucana” do jornalista Amauri Ribeiro Jr.? Como poderá argumentar
com posturas éticas se também o PSDB teve o seu “mensalão” (o mineiro) sujeito
a um próximo julgamento? Como poderá votar no candidato que tem apoio explícito
de ministro afastado do governo Dilma por pretensos malfeitos, com a pressão,
então, do próprio tucanato? Alguém já se deu ao trabalho de comparar os valores
envolvidos nesses processos, em uma espécie de “ranking” da corrupção?
É
claro que o eleitor de Brasília deve estar indignado ou ressabiado por ver o
nome do seu governador envolvido na cachoeira (“enxurrada”) de denúncias que
assola o país. Pode até querer atribuir tal mal a um DNA petista. Mas pode?
Pode fazê-lo na terra de Arruda do DEM, da Roriz do PMN? E, em termos do
assunto-Cachoeira, a que partido pertence (ou pertenceu) o Sr. Demóstenes
Torres - até meses atrás tido como sustentáculo moral dos princípios éticos na
política? E os outros governadores vinculados ao processo?
Em
suma: se o assunto é corrupção, qual é o partido – dentre as grandes
agremiações políticas do país - que pode atirar a primeira pedra?
Eu
entenderia e respeitaria essa postura “moralizadora” da grande mídia nacional
se ela, prezando efetivamente os valores maiores do jornalismo, não estivesse
nitidamente comprometida com interesses que a fazem amplificar alguns fatos e
quase esconder outros, ao sabor de suas conveniências.
É mais
do que certo que os níveis da corrupção no país chegam ao ponto do intolerável.
É óbvio que a sociedade tem que reagir a isso. Mas é ridículo querer atribuir
esse comportamento a uma sigla partidária, satanizando-a, quando a realidade
revela que ele é generalizado.
Aquilo
de que necessitamos – para minimizar a corrupção endêmica e inerente a um
sistema econômico que a estimula mas que, infelizmente, é o que temos - é,sim,
de uma reforma das práticas políticas,que envolve o fim de partidos “de
aluguel”, a proibição de coligações “espúrias” e fisiológicas, a identificação
clara dos matizes ideológicos dos partidos, o fim do voto secreto dos
“representantes do povo” , a aplicação rigorosa , pelos juízes eleitorais, dos
princípios da ficha limpa, a proibição de financiamentos de campanhas por
entidades particulares e tanta outras providências que, se não acabariam com a
corrupção conjuntural de alguns indivíduos pessoalmente propensos à fraude,
pelo menos derrubariam obstáculos que fazem da corrupção, hoje, um problema
estrutural.
No Direto da Redação
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