Mário Augusto Jakobskind
Em meio a crise que assola
a Europa, da Grécia a Espanha, passando por Portugal e Irlanda, os jovens,
também no continente americano, saem as ruas para manifestar o desagrado com a
austeridade pregada por governos de seus paises.
Até a
mídia de mercado teve de se curvar diante da realidade, ou seja, noticiar as
movimentações que se espalham pelo mundo. Jovens no Canadá, na Espanha,
nos Estados Unidos e no Chile estão dando o recado, apesar da (não) resposta
dos respectivos governos, que reprimem com violência os manifestantes.
O
Chile, no continente latinoamericano, vale um capítulo a parte. Da ditadura à
democracia formal que desembocou na Concertación e mais recentemente em
Sebastian Piñera, o Chile até hoje vem sendo considerado pelos defensores do
neoliberalismo como um exemplo a ser seguido. Fernando Henrique Cardoso que o
diga.
Mas
quando eles apresentam as análises sobre o país andino omitem o principal, ou
seja, quem detém o poder econômico. Omitem também as condições de vida em que
se encontra a maioria dos chilenos.
Pouco
se noticia aqui no Brasil que a distribuição de riqueza contempla cinco grupos
econômicos, sendo um deles o dos Piñeras, que tem como integrante um
adepto da ditadura de Pinochet, hoje na Presidência da República.
Segundo
dados oficiais, as cinco famílias detêm 50 bilhões de dólares das riquezas
chilenas, o equivalente a 20% do produto interno bruto. .
Tanto
Piñera como os anteriores governos da Concertación administraram o Chile
sempre de forma a não contrariar os interesses dos cinco, Sebastian Piñera nem
se fala. Na prática legisla até em causa própria.
Nestas
circunstâncias, os jovens, que por sinal nem eram nascidos na época da ditadura
que Piñera apoiou e participou, saem as ruas para dizer basta. Motivos não
faltam, como, por exemplo, exigir que o ensino não continue sendo na base dos
shopings centers que se transformaram os estabelecimentos de ensino no
Chile.
Para
se ter uma ideia de como anda o setor educacional, vale uma comparação. No ano
passado, a indústria mineira, portanto os barões do setor, obtiveram benefício
de 35 bilhões de dólares, o que, segundo o economista Marcel Claude, representa
três vezes mais o orçamento na área educacional e ainda 12 vezes mais do que os
subsídios para o setor de moradia.
E aí,
diante dos protestos que se irradiaram para vários setores sociais, Piñera
decidiu conceder migalhas para o setor educacional e assim sucessivamente. Os
jovens recusaram a oferta que o governo Piñera imaginava seria acatado.
Trocando
em miúdos, o que acontece no Chile com seus desequilibrios cada vez mais
acentuados e políticas econômicas que contemplam os ricos, vem desde a época da
ditadura. Deram uma maquiada, até porque a ditadura ao estilo sangrento como no
período Pinochet ficou superada para o capital.
Em
essência, os benefícios econômicos do setor continuaram como antes. Os
defensores do modelo, de Fernando Henrique Cardoso a colunistas de sempre,
apresentavam (continuam a apresentar) como justificativa para o apoio o falso
argumento de que os gigantescos complexos econômicos eram responsáveis por
empregos. Mentira, porque esses gigantes oferecem a nível nacional apenas 20%
dos empregos. A maioria, aí sim, da oferta vem da pequena e média
empresa.
E como
se tudo isso não bastasse, vale assinalar também que os lucros dos cinco
grandes no Chile se devem sobretudo ao arrocho salarial.
Guardando-se
as especificidades de cada país, as políticas de austeridades defendidas pelo
Fundo Monetário Internacional estão sendo aplicadas não só no Chile como em
países da Europa onde, sob o pretexto de sair da crise, o capital financeiro é
contemplado em detrimento dos assalariados. Angela Merckel que o diga.
Por
falar em jovens, os destas bandas estdão dando o ar de sua graça. Os
integrantes do Levante Popular da Juventude, como os chillenos, não eram
nascidos na época da ditadura, mas isso não impede de hoje sairem as ruas e
promoverem o esculacho na porta da residência de torturadores e assassinos da
época da ditadura ainda vivos. Muitos vizinhos que desconheciam o fato ficaram
sabendo.
No mais, os jornalistas autores do livro
reportagem Memórias de uma guerra suja garantem
que conhecem pelo menos mais seis delegados do gênero Claudio Guerra, de quem
colheram o depoimento, Ou seja, Marcelo Netto e Rogério Medeiros garantem que
outros agentes do Estado terrorista de pós-64 poderão fazer revelações
importantes para a Comissão da Verdade, ajudando assim o Brasiol passar a limpo
uma página infeliz de sua história.
Em
suma: quando os jovens se manfestam é sinal que o país está vivo, Felizmente a
paz dos cemitérios propugnada pelos que tomaram o poder a força em abril de 64
não tem mais guarita aqui e nos demais países do Cone Sul.
Em tempo: a idolatrada BBC cometeu
uma tremenda gafe recentemente. Colcou no canal e no site uma imagem de 2003
correspondente ao Iraque como se fosse hoje na Síria. O autor da foto, o
repórter fotográfico Di Lauro da agência de fotografías Getty Images
reconheceu o seu trabalho feito por ocasião da invasão e posterior ocupação do
Iraque por forças militares estadunidenses.
A BBC
teve de pedir desculpas pela mancada que talvez continuasse se o próprio autor
da foto não reclamasse. Se tal fato aconteceu na BBC imaginem o que pode estar
acontecendo em outros canais sem a credibilidade da emissora britânica.
No Direto da Direção
.
Tweet
0 comentários:
Postar um comentário